08/08/2008

Insensibilidade para com os animais

De há alguns meses a esta parte que vim observando a vida de um cão pequeno, cor branca, com manchas castanhas, numa das promenades da zona Este da nossa Ilha.

Tendo perdido o seu lar, logo foi reconstruindo o seu novo ritmo de vida. Então, permanecia nas proximidades da porta de acesso à piscina da unidade hoteleira existente. Ficava deitado, por vezes passava despercebido. Com frequência via-o a acompanhar os turistas (lembro um casal de turistas que foi para o cais pescar e o cão sempre permaneceu ao seu lado). Os turistas acariciavam-no, ou arranjavam alguma comida e davam-lhe. Também o vi junto das crianças que lhe davam bolachas ou um pouco de gelado.

Este cão que fora abandonado, logo continuou a sua vida criando laços com muitas pessoas de outras culturas que escolheram o nosso destino para férias e aquele local para permanecer. Certamente, ele pressentia que essas pessoas eram sensíveis à sua vida. Algum tempo depois vi que tinha uma das patas traseiras que indicavam ter sido atropelado, pois não conseguia apoiá-la no chão, e embalançava.Falei com vários turistas que ficavam junto do cão, pois mostravam-se preocupados pela sua situação, e que me disseram que uma pessoa estava a dar-lhe medicação.

Soube, posteriormente, que essa pessoa era um membro da organização de protecção dos animais "PATA" . Fiquei feliz por ver que aquele cão era feliz, pois ele estava a reconstruir a sua vida… Sempre que percorria aquela promenade sentia uma ansiedade, não fosse alguém fazer mal ao cão.

Num destes dias, percorrendo a promenade, não vi sinais do cão e perguntei a alguém se o tinha visto, e me disse que tinham-no levado numa caixa. De repente senti uma profunda tristeza e pensei: Se tivessem perguntado aos muitos turistas que o acariciaram e lhe deram comida o que deveria ser feito ao cão, estou certo que o continuariam a proteger. Afinal, a vida que aquele cão estava a reconstruir, criando laços e dando um sentido de essência da vida para quem tivesse a sensibilidade de o observar.

Lamento, que alguém desconhecendo os laços que aquele cão criava, dia após dia, naquele local, porventura, sendo insensível, lhe tenha interrompido a vida… Ainda bati no meu peito "mea culpa", pois deveria ter contado esta situação a alguém jornalista, que construiria uma bela reportagem sobre este reconstruir de vida de um cão.
O cão, espontaneamente, criou laços que alguns humanos não foram sensíveis para ver e interpretar… É profundamente triste e inaceitável…


João Freitas 08/08/08
In cartas do Leitor - dnoticias.pt

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