14/01/2009

Mais de dois mil cães e gatos abatidos

Já antes me pronuciei acerca da eutanásia e embora não me considere uma fundamentalista sobre esta temática, sou contra!

A falta de apoios camarários, a mentalidade de muitas das pessoas e os preços um tanto "descabidos" das esterilizações não ajudam, e com isto ascendeu-se a um número inconcebível de 2.000 animais abatidos no ano transacto.

Fico destroçada é certo, mas mais ainda por não ter como ter um papel interventivo numa matéria que acredito profundamente!


A medida é polémica, a 'PATA' está contra, mas na SPAD responsáveis e veterinários dizem que não há outra maneira de gerir um canil
Data: 14-01-2009


Mais de dois mil cães e gatos foram eutanasiados durante 2008.

A Sociedade Protectora dos Animais defende que esta é a forma adequada de gerir um canil e evitar o sofrimento dos bichos, mas a opção não é pacífica e a Associação PATA acusa a Protectora de estar a seguir pela via mais fácil e a atentar contra os direitos dos animais. "Somos contra a eutanásia, atenta contra os direitos dos animais".

Fátima Gonçalves, responsável da 'PATA', é peremptória, não aceita o abate de animais, nem mesmo perante o facto de o canil do 'Vasco Gil' ter a lotação esgotada. "Só em último recurso, quando estão esgotadas todas as saídas". E lembra que a Associação já acolheu animais em todas as circunstâncias, doentes, atropelados, abandonados e já idosos.

A 'PATA' acolhe, neste momento, 50 cães e gatos, estão alojados em casa de associados e esperam por um dono, mas apesar do número a possibilidade de abater algum deles está posta de lado. "Essa seria a solução mais fácil quando sabemos que a esterilização é a forma mais eficaz de reduzir os números de abandono".

Fátima Gonçalves defende apoios às pessoas de menores recursos e acções de sensibilização junto da população. No ano passado, a associação enviou cartas às juntas de freguesia com a intenção de divulgar a necessidade de esterilizar as cadelas e as gatas, mas poucas aderiram ao projecto.

Ainda assim, na 'PATA' não se baixam os braços, os associados ajudam o quem podem e propõem protocolos com clínicas veterinárias para controlar as ninhadas indesejadas.

Carolina Margarido, médica veterinária da Sociedade Protectora dos Animais, não tem dúvidas que as campanhas de esterilização são medidas eficazes a médio prazo, mas também sabe que a SPAD tem um canil lotado para gerir e todos os dias lida com casos dramáticos. "A eutanásia acaba por ser a opção menos cruel. E quem me conhece sabe o quanto gosto de animais".

À porta da SPAD chegam cães atacados com ácido, animais chamuscados porque uns quantos decidiram que seria engraçado experimentar o churrasco com gatos. Muitos outros estão doentes, outros foram atropelados e há ainda as inúmeras ninhadas de recém-nascidos deixadas em caixas, sacos e cestos durante a noite.

Alguns não resistem ao frio, os que sobrevivem vão morrer lentamente porque não têm mãe. Os que são recolhidos são encaminhados para o canil, mas no Vasco Gil as jaulas têm lotação e muitos destes animais não serão adoptados, nem terão qualidade de vida. "Não basta estar vivo, uma vida numa jaula, sem exercício e sem contacto próximo com seres humanos é horrível para os cães".

Além disso, com as taxas de abandono actuais, seriam precisos muitos recursos para manter um canil sem recorrer à eutanásia. "Era impossível por muito dinheiro, por muitas condições de higiene e salubridade que tivesse.

Devo dizer, no entanto, que esta não é uma tarefa fácil para um veterinário. É doloroso, desgastante e não é por acaso que fazemos uma escala entre os médicos veterinários". É duro, mas "acaba por ser o menos cruel, a menos desumana".

Apesar de considerar o abate de animais como um mal necessário, a médica veterinária também defende campanhas de esterilização, também sabe que é a melhor forma de controlar as populações de cães e gatos vadios, a única maneira de evitar as ninhadas indesejadas. "Não tenho dúvidas de que é necessário fazer esterilizações, mas antes disso é preciso lançar acções de sensibilização junto das pessoas, pois na Madeira ainda há muita ignorância".

Deixam-se caixas de cães e gatos à porta da SPAD, alguns ainda matam as fêmeas à nascença e, mesmo assim, existe uma grande resistência às esterilizações dos animais domésticos. "As pessoas consideram estas operações como anti-naturais".

Carolina Margarido diz que é tempo de começar a esclarecer a população, a explicar que a esterilização é, além da forma mais eficaz de controlar os nascimentos, uma boa medida em termos de saúde, uma maneira de prevenir doenças. "É necessária uma mudança de mentalidades, há que prevenir e proteger os animais de maus tratos.

A colónia de gatos da Promenade do Lido, por exemplo, está exposta. Eu posso achar um gato vadio bonito e agradável, mas há quem possa ver nisso um incómodo, esse o primeiro passo para colocar em risco o bem-estar do animal". A

veterinária sabe que é assim, pelo que vê chegar à Sociedade e não só. "Ainda há muita ignorância, muita ideia distorcida do que deve ser um animal doméstico, de como deve ser tratado, ainda são os muitos os cães que passam a vida presos por uma trela curta". Embora as pessoas sejam desconfiadas e nem sempre percebam à primeira os efeitos da operação, a verdade é que a esterilização é uma intervenção cirúrgica e tem custos.

Nas cadelas, os preços oscilam consoante o peso do animal, mas é uma operação para custar entre os 140 e os 160 euros. Nas gatas, o preço é de 125 a 130 euros.

Valores que não incluem a anestesia e os cuidados pós-operatório. Segundo Micaela Quintal, a SPAD - que também faz estas intervenções - nunca deixa ninguém na mão e, quem quer, paga aos poucos a esterilização. "Paga uma parte no dia da operação, o resto em duas vezes.

Nós damos facilidades de pagamento". Apesar destas facilidades, não é fácil mudar ideias e maneiras de agir. As ninhadas continuam aparecer durante a noite na SPAD.

O resultado de toda esta mentalidade é visível nos números da Sociedade Protectora.

Em 2008, entraram 3.247 cães e gatos, no mesmo ano em que a SPAD abateu 2.114 animais. As adopções ficaram-se pelas 876, as efectivas, pois neste valor não entraram as 72 devoluções, os cães e os gatos que foram adoptados e depois recambiados para a SPAD por inadaptação.

Porque ladraram muito, "alguns porque fizeram as necessidades fora do sítio, quase todos porque foram adoptados de impulso, sem medir as consequências de ter um animal de estimação".


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