04/02/2009

O fim último da vida não é a excelência

Mandaram-me por e-mail e revejo-me na maior parte das palavras, por isso aqui fica.

"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.

Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.

Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade
!


João Pereira Coutinho - Jornalista

4 comentários:

Anónimo disse...

Não concordo, não justifico a minha não concordância :)

Unknown disse...

Boas noites Carlos.

Concerteza será pai ou pretende vir a sê-lo, o que faz com que a sua opinião seja bem diferente da minha e de tantas outras e ainda bem que assim é.

Todos diferentes, todos iguais!

Continuações! :)

Anónimo disse...

Sou pai, claro... um com 19 e uma com 13 anos. O primeiro, já criado e adulto, quanto a ela, ainda novita. Claro que tenho sempre preocupações com eles, mesmo o mais velho, mas, o prazer de tê-los supera essas todas essas dificuldades. Todo o acompanhamento, todo o crescimento, enfim, tudo e mais tudo, dá-nos um prazer que só quem passa poderá dar esse valor. Claro que embora não concorde, aceito a opinião "serenamente" e é claro que aceito as decisões de cada um. Para que saibas, foi um prazer enorme ter escrito aqui. hehehe. Penso que me conheces, aliás eu conheço-te, daí os meus comentários. Até já. :)

Unknown disse...

Ah pois é Carlos...cada um defende a sua "dama".

Tenho possivelmente uma visão muito radical é certo, mas além dos países mais desenvolvidos serem justamente aqueles onde a taxa de natalidade é menor, a crise não dar margem para grandes gastos e o sistema de educação em Portugal ser o que se vê, adoro a vida que levo tal e qual como está!

Até já...na aula :)

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